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Considerações sobre saúde mental

O tema da redação da aplicação presencial do ENEM 2020 foi muito pertinente, mas apenas alguns dias atrás consegui ver sua relevância.

Foto de Luis Dalvan no Pexels

por Fernanda Campos

O tema da redação da aplicação presencial do ENEM 2020 (a primeira delas) foi muito pertinente, mas apenas alguns dias atrás consegui ver sua relevância. Ao fazer com que os alunos abordem e, mais que isso, reflitam por alguns momentos sobre “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”, a banca abriu espaço para discussões que não estão presentes no cotidiano de uma imensa parcela da população. Hoje, eu, Fernanda, venho aqui não apenas como estudante de medicina, mas também como portadora de um transtorno para expressar a minha opinião sobre o tema.

Durante toda a vida ouvimos a maneira pejorativa como as pessoas se referem às pessoas que sofrem de algum transtorno mental. Hoje, inclusive, existe um termo específico para esse tipo de atitude: PSICOFOBIA. A palavra, criada em parceria com o comediante Chico Anysio, o qual fez tratamento para depressão ao longo de toda sua vida, veio preencher a lacuna de um nome que simplesmente representasse todo o preconceito destinados à essas pessoas sem nenhum fundamento justificável.

Primeiramente devemos esclarecer uma coisa importante: são diversos transtornos, com características muito diferentes, enquadrar todos sob uma mesma conotação é simplesmente ignorar a pluralidade de todas essas pessoas. Além disso, como toda e qualquer alteração orgânica, temos todo um espectro, de casos leves a casos graves. Muitos imaginam que quem está em sofrimento mental é aquela caricatura que aprendemos a vida toda. Não somos assim, acredite! Há um alto nível de funcionalidade, pessoas brilhantes e, com um tratamento adequado, isso pode ser potencializado.

John Nash era esquizofrênico e ganhou o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1994. Clarice Lispector é referência na literatura brasileira e lutou durante anos contra a depressão. Alan Turing, o pai da computação como conhecemos, também era esquizofrênico.

É importante também ressaltar que, como muitas outras doenças, os transtornos psiquiátricos advém de um “desequilíbrio” no organismo. É nada mais que isso. É ilusório, que imaginemos, por mais inteligentes e capazes, que a cura pode vir apenas da nossa vontade, se nos esforçarmos o suficiente. Ninguém questiona tomar medicação para diabetes ou acredita que se se esforçar o suficiente o pâncreas voltará a produzir insulina em dado momento. Fazer essa diferenciação é agir sem o mínimo de racionalidade.

É difícil lidar com algo que mexa tanto com o eu. Nosso cérebro define quem nós somos e qualquer alteração faz com que tenhamos a impressão de que desmoronaremos. Mas acredito que o primeiro passo, procurar um tratamento e seguí-lo é uma guinada, que pode transformar MUITO a vida dessas pessoas. Dê suporte, trate o transtorno mental como uma doença que pode ser tratada. Ao desmistificarmos todos esses transtornos abrimos uma série de possibilidades para que seus portadores os assumam, se tratem, sigam suas vidas e, mais que isso, sejam exemplos de casos bem sucedidos para que esse preconceito desapareça, no paciente e em quem o cerca, fazendo com que a vida de todos seja muito melhor.