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Concordância verbal

A concordância verbal é o capítulo da gramática que trata da relação existente entre o verbo e o sujeito na frase.

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A concordância verbal é o capítulo da gramática que trata da relação existente entre o verbo e o sujeito na frase. Se as regras que governam essa relação fossem iguais na escrita e na fala, provavelmente não seria necessário estudar a concordância. Porém, há diversas regras da linguagem escrita formal que diferem frontalmente daquelas que empregamos habitualmente na linguagem oral.

Aqui você vai estudar algumas das regras de concordância verbal a fim de aperfeiçoar sua produção escrita. Antes, porém, que tal fazer um pequeno teste para verificar como está seu domínio da concordância verbal?

1 Regra geral da concordância verbal

A regra básica é bastante simples: o verbo concorda com o sujeito. Isso significa que o verbo ficará no singular se o sujeito for singular e irá para o plural se o sujeito estiver no plural. É o que podemos reparar no exemplo (1), abaixo.

(1) A Câmara dos Deputados cassou ontem o mandato do deputado Talvane Albuquerque (PTN-AL) por falta de decoro parlamentar.

O verbo da frase (1) é “cassou”, que está na 3ª pessoa do singular, concordando com o sujeito “A Câmara dos Deputados”. É importante reforçar que o núcleo do sujeito é o nome “Câmara”, singular.

Já a frase (2) apresenta um sujeito plural, o que obriga o verbo a ser conjugado no plural.

(2) Algumas frutas  nascem sem sementes.

Em (2), o verbo “nascer” está no plural, concordando com o sujeito “algumas frutas”.

O verbo também irá para o plural se o sujeito for composto por mais de um núcleo, como em (3):

(3) A recessão e a deflação prejudicam o País.

O verbo “prejudicar”, em (3), está no plural porque seu sujeito é composto por dois núcleos: “recessão” e “deflação”, que são coordenados pela conjunção “e”.

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Você provavelmente não tem dificuldade em fazer a concordância exigida nos casos mostrados até aqui. A dúvida ou o erro costumam acontecer mais em algumas circunstâncias do que em outras. É desses casos que oferecem maior dificuldade que trataremos a partir de agora.

2 Quando o núcleo do sujeito está distante do verbo

Alguns erros de concordância verbal acontecem quando o sujeito é constituído por uma expressão nominal complexa em que o núcleo está no singular e palavras que o seguem estão no plural. É o que acontece em (4):

(4) O preço das passagens aéreas subiu ontem.

Embora a frase (4) seja curta, há duas palavras no plural entre o núcleo do sujeito – “preço” – e o verbo “subir”. Algumas pessoas, provavelmente devido à proximidade entre o verbo e essas palavras no plural, tenderiam a escrever, incorretamente, “subiram”. Porém, o verbo deve concordar com o núcleo do sujeito, por mais distante que ele esteja.

Observe mais um exemplo:

(5) A publicação das fotos das modelos provocou alvoroço na pequena cidade.

“Publicação” é o núcleo do sujeito, mas a presença de palavras no plural entre esse núcleo e o verbo poderia fazer com que algumas pessoas, equivocadamente, pensassem que o verbo “provocar” deveria ir para o plural.

3 Quando o sujeito vem depois do verbo

Nas frases do português, como nas do inglês ou nas do espanhol, as palavras costumam seguir uma determinada ordem. Há línguas em que os falantes e escritores costumam deixar o sujeito para o final da frase. Não é o caso do português: embora haja uma certa liberdade na ordem das palavras, o mais comum é encontrarmos a ordem sujeito/verbo do que seu inverso. Talvez por isso, algumas pessoas erram a concordância quando o sujeito vem após o verbo. Uma frase que poderia trazer dificuldades é esta:

(6) Eles votaram por carta, como permitem os estatutos da entidade.

Repare que, em (6), o sujeito de “permitir” aparece após o verbo: quem permite são os estatutos da entidade. Portanto, é com essa expressão que o verbo deve concordar. Em (7), acontece o mesmo fenômeno, com o verbo “permanecer” aparecendo antes do sujeito “os feridos no acidente”:

(7)Permanecem em estado grave os feridos no acidente.

Depoisde ter visto esses dois casos, é hora de praticar um pouco.

4 Quando o verbo está acompanhado do pronome apassivador “se”

Todosconhecem a famosa frase “Faz-se fretes”, que é vista em carroças ou caminhões. Para a gramática da norma culta, essa frase apresenta um problema de concordância, pois o verbo “fazer” não está concordando com o sujeito “fretes”. O correto seria “Fazem-se fretes”. Nas frases em que não há indicação do agente da ação (quem faz fretes?) e o verbo está acompanhado do pronome “se”, é bastante provável que se tenha um sujeito passivo (um sujeito que sofre a ação em vez de praticá-la), que normalmente vem após o verbo. Para conferir se de fato há esse sujeito passivo, você pode realizar um dos seguintes testes:

a) verificar se é possível transformar a estrutura “verbo + se” numa estrutura “estar + verbo no particípio” (por exemplo: de “Fazem-se fretes” para “Fretes são feitos”; de “Alugam-se apartamentos” para “Apartamentos são alugados”);

b) verificar se, naquela frase, o verbo que acompanha o “se” pede objeto direto, ou seja, pede um complemento não iniciado por preposição: (por exemplo: “fazer” pede objeto direto, pois quem faz, faz alguma coisa; já “precisar” pede objeto indireto, pois quem precisa, precisa de alguma coisa).

Se o resultado de qualquer um dos testes for positivo, então você está frente a um verbo que tem sujeito passivo – e é com este sujeito que o verbo irá concordar, como no exemplo abaixo:

(8) Durante a reunião, escolheram-se os representantes dos alunos.

Repare que tanto o teste a) como o teste b) indicariam que “escolher” está na voz passiva: posso transformar “escolheram-se” em “foram escolhidos”; além disso, “escolher”, pede objeto direto – quem escolhe, escolhe alguma coisa -, ou seja, o complemento de “escolher” não é iniciado por uma preposição. “Os representantes dos alunos” sofreram a ação de escolher e constituem, portanto, um sujeito passivo, com o qual o verbo concorda.

E quando os testes dão resultado negativo? Bem, nesses casos, não temos sujeito passivo, mas aquilo que a gramática chama de sujeito indeterminado. Quando o sujeito é indeterminado, o verbo não tem com quem concordar e, em conseqüência, fica na 3ª pessoa do singular, como no exemplo (9):

(9) Antigamente acreditava -se em promessas eleitorais.

Se aplicarmos qualquer um dos testes – a) ou b) -, verificaremos que não há voz passiva em (9): todos estranhariam se alguém dissesse: “Em promessas eleitorais eram acreditadas”; além disso, “acreditar” pede objeto indireto, isto é, um complemento inciado por preposição: quem acredita, acreditaemalguma coisa. Assim, o verbo “acreditar” permanece no singular, pois “em promessas eleitorais” não é seu sujeito.

Vamos ver se você compreendeu as explicações desse item.

 

5 Quando o sujeito é um verbo impessoal

O português tem alguns verbos que não possuem sujeito e, por isso, são usados na 3ª pessoa do singular. Entre eles, estão os famosos verbos que indicam fenômeno da natureza, como “chover”, “ventar” e “trovejar”. São muito raros os problemas de concordância com estes verbos. Porém, verbos como “haver” e “fazer” freqüentemente são empregados em desacordo com a norma culta. Vamos tratar especificamente desses duas fontes – involuntárias – de problemas.

O verbo “haver” pode ser impessoal ou não. Será impessoal em situações como estas:

a) quando significa “existir” ou “ocorrer”:

(10) Naquela cidade, havia dois cinemas.(“haver” com sentido de “existir”)

(11)Houve inúmeras festas naquele ano.(“haver” com sentido de “ocorrer”)

b) quando indica tempo decorrido, ou seja, indica um período de tempo que já passou:

(12)Havia muitos anos que ele morava na cidade.

O verbo “fazer” também pode ser impessoal, mas apenas nestes casos:

a) quando indica tempo decorrido:

(13)Faztrês dias que recebi o convite.

b) quando indica fenômeno meteorológico:

(14) Em julho,fezdias muito frios nesta cidade.

Nos casos acima, os verbos “haver” e “fazer” ficam na 3ª pessoa do singular, pois não têm sujeito. Isso não significa que em todas as ocasiões em que forem usados esses verbos, eles serão impessoais. Verifique que, no exemplo (15), o verbo “haver” é simplesmente um verbo auxiliar de “fugir” e concorda normalmente com o sujeito “eles”:

(15) Eleshaviamfugido no meio da noite.

Também é importante observar que, nas expressões verbais cujo elemento principal é um verbo impessoal, o verbo que o acompanha também se mantém na 3ª pessoa do singular. É o que se pode verificar no exemplo (16), em que o verbo “costumar” auxilia o impessoal “haver” (impessoal porque significa “ocorrer”):

(16) Os vizinhos me garantiram que nãocostumahaver assaltos neste bairro.

Veja agora se você compreendeu esta unidade.

Cliqueaquipara fazer novo exercício sobre concordância verbal.

6 Quando o sujeito é o pronome “que” ou “quem”

Quando o sujeito de um verbo é o pronome “que”, o verbo concorda com o antecedente desse pronome. É o que acontece em (17) e (18), onde o antecedente de cada pronome está sublinhado.

(17) Fuieuque fiz isso.

(18) Foramelesque provocaram o incidente.

Já o pronome “quem”, de acordo com a norma culta, exige que o verbo fique na 3ª pessoa do singular. É o que se verifica em (19) e (20):

(19) Fui eu quem fez isso.

(20) Sou eu quem paga a conta.