
Dom Casmurro é um romance realista de Machado de Assis que utiliza a forma de memória de Bentinho para registrar a vida no Rio de Janeiro do período do Segundo Reinado.A obra é marcada pela análise psicológica do narrador, pela ambiguidade de Capitu e pela ironia que questiona a veracidade dos seus relatos.}
Dom Casmurro, escrito por Machado de Assis, é narrado em primeira pessoa por Bentinho, que se autodenomina Dom Casmurro na vida adulta. O objetivo dele, lembra o próprio título, é ligar as duas pontas da vida ao revisitar a juventude, a infância no seminário e o casamento com Capitu. O tom é de memória, mas também de desconfiança, já que o narrador admite ser pouco confiável.
Narrando de dentro para fora, Bentinho relembra o tempo em que conheceu Capitu, a amizade com Ezequiel de Sousa Escobar e o ciúme que brota com o passar dos anos. A dúvida sobre a fidelidade de Capitu se torna o motor da trama, que se passa no Rio de Janeiro durante o Segundo Reinado. A pergunta que não encontra resposta clara – Capitu o traiu ou não? – atravessa toda a narrativa como uma sombra inevitável.
O enredo transita entre o particular e o social: o romance mostra não apenas o drama de um casal, mas também as máscaras, os costumes e a vida urbana da sociedade carioca da época. A ironía e a observação arguta de Bentinho revelam um retrato ácido das aparências versus a verdade que pode estar escondida atrás delas.
A obra é reconhecida por seu realismo psicológico: o foco é a memória, as digressões internas do narrador e a construção de significado a partir de percepções subjetivas. Além disso, o romance dialoga com Shakespeare em uma intertextualidade que reforça o tema da suspeita, do ciúme e da manipulação de símbolos.
Um dos pilares de Dom Casmurro é o realismo psicológico. Machado de Assis mergulha na memória do narrador para explorar como a percepção molda a verdade. Bentinho não é apenas um personagem; é um filtro pelo qual lemos os acontecimentos. A ambiguidade se impõe: se Capitu é culpada ou vítima das interpretações de Bentinho, depende de quem lê.
Outro eixo importante é a intertextualidade. O romance dialoga com obras de Otelo e com o próprio Machado de Assis. Essa referência amplia o jogo entre aparência e realidade, entre o que parece ser e o que é. A sociedade carioca ganha textura com nuances de classe, educação, religiosidade e as regras morais da época.
Personagens como Capitu aparecem sob leituras diversas: o traço da ambiguidade pode abrir portas para leituras feministas, sociológicas e psicanalíticas. A construção da fidelidade, a interpretação da memória e a vigilância constante do narrador reforçam a ideia de que a verdade não é absoluta, mas construída.
Ao longo da leitura, percebemos como a percepção do leitor é moldada pela voz de um narrador que admite não ser isento. Essa construção transforma a leitura em um exercício de interpretação: cada detalhe pode parecer uma pista ou um truque da memória. E, no fundo, o que resta é uma pergunta que continua viva nas escolas e vestibulares: a verdade é o que lembramos ou o que aconteceu?
Eu gosto especialmente da forma como Machado de Assis nos faz duvidar do que é real. A leitura é quase um jogo de espelhos: a pessoa que conta não é uma bússola, é uma lente que oscila entre confiança e desconfiança. Isso prende o aluno: não basta aceitar a versão do narrador, é preciso questionar, comparar com as pistas e refletir sobre o que a memória pode ferver de verdade.
Além disso, o estilo enxuto, a ironia sutil e a observação social tornam a obra atual. Mesmo que o cenário seja do século XIX, o livro conversa com temas atemporais: como julgamos as pessoas, como a aparência influencia nossas escolhas e como a memória pode falhar justamente quando mais precisamos dela. Se você curte obras que provocam debate e leitura ativa, Dom Casmurro é aquele título que rende várias discussões icônicas em sala de aula.
Nos vestibulares e no ENEM, este romance costuma aparecer com foco na narrativa em primeira pessoa e na ideia de narrador pouco confiável. Fique atento aos seguintes pontos que costumam cair em prova:
— A ambiguidade entre aparência e verdade; a leitura da fidelidade de Capitu; a leitura de Bentinho como narrador; a relação entre memória e verdade; e a presença de intertextualidade com obras de Shakespeare (Otelo) que serve para pensar o ciúme e o destino de Capitu.
— Questões sobre o realismo e o realismo psicológico, além de perguntas que envolvem o contexto social do Rio de Janeiro no Segundo Reinado e como o setting influencia as ações dos personagens.
O romance se passa no Rio de Janeiro durante o Segundo Reinado, período que vai de 1840 a 1889, marcado por transformações urbanas, políticas e sociais. Machado de Assis escreve em um momento em que a cidade vivia a construção de uma identidade nacional e a consolidação de uma elite letrada que discutia moralidade, classe e tradição. O livro, publicado em 1899, reflete esse microcosmo urbano com olhar crítico e, ao mesmo tempo, afetuoso pelas idiossincrasias da sociedade carioca.
Ao mesmo tempo, o autor – e aqui não podemos deixar de destacar a importância de Machado de Assis – mergulha na psicologia do indivíduo, mostrando como as mudanças políticas e sociais afetam as relações privadas. A ambientação e a ironia sutil revelam costumes, hierarquias e tensões que ajudam o leitor a entender não apenas a história de Bentinho e Capitu, mas também a dinâmica da vida urbana brasileira no final do século XIX.
Dom Casmurro é frequentemente enquadrado no Realismo brasileiro, com ênfase no realismo psicológico, que privilegia a experiência interna do narrador. O uso de digressões, a linguagem contida e a observação de costumes são marcas da estética que o autor desenvolve para explorar a construção de memória e de identidade.
Além disso, o romance sinaliza um trânsito para o que viria na literatura brasileira do século XX: ele é apontado por muitos críticos como precursor de ideias modernas e de uma forma de questionar verdades consensuais. A presença de referências intertextuais, especialmente a obras de Shakespeare e o diálogo com o cinema mental de Freud na leitura da memória, ajudam a situar a obra entre o romance da vida privada e a crítica social mais ampla.
Se você está estudando para vestibular, vale lembrar que Machado de Assis criou uma voz única que se tornou referência para entender como a percepção pode ser tão poderosa quanto a própria ação. Em termos de estilo, é possível reconhecer a combinação de ironias, frases curtas e uma elegância fria que desafia interpretações fáceis.
Para quem quer aprofundar, vale conferir mais sobre o autor e a obra em páginas da Wikipedia e no artigo dedicado a Machado de Assis, além de explorar o contexto histórico do Segundo Reinado.
Se quiser revisar de forma objetiva, também há uma lista prática de resumos que pode ajudar na preparação de temas para lista de resumos.
Ciúmes e dúvida sobre a fidelidade