Foto de Michelangelo Buonarroti no Pexels
Os impactos de uma Guerra em meio a uma Pandemia de caráter respiratório
É certo que a pandemia de Covid – 19 dizimou mais de um milhão de vidas na Rússia, e não se pode dizer que o vizinho – e alvo dos ataques dessa autoproclamada “guerra” – esteja em uma situação mais otimista, tendo registrado até o momento da formulação deste texto um pouco mais de 112 mil mortes por Covid.
Com o surgimento da variante Omicron os números de casos de infecção por covid tanto na Rússia quanto na Ucrânia chegaram a registros recordes, sendo considerada como um dos fatores que poderiam retardar os ataques russos a Ucrânia, ou gerar um cessar fogo, devido as baixas militares por covid.
O rigoroso inverno no leste europeu, associado ao ceticismo vacinal existente em ambos os países nos levam a questionar, qual o impacto de uma guerra em meio a pandemia de covid. Entretanto, antes de entender o impacto da doença, vamos entender a doença e suas variantes.
Explicando a Covid e suas Variantes
Antes de entender a Covid, é viável entender ou conhecer o que é um vírus.
A biologia define vírus como um parasita intercelular obrigatório – de forma simplista um vírus é um agregado de DNA ou RNA protegidos por uma capsula proteica, que para conseguir sobreviver precisa “escravizar” uma célula, visto que, o vírus não possui metabolismo próprio, sendo assim, se não parasita uma célula, ele não consegue se reproduzir e morre.
E o Corona Vírus?
O CoV-SaRS-2, causador da Covid-19 é só mais um dos membros da família “corona”- que recebe esse nome porque o seus spin ( partículas que indicam o “potencial “de causar doença do vírus), forma uma espécie de “coroa”.
Vocês devem se recordar, que esta autora citou o Covid-19 como apenas mais um membro da família Corona, isso porque gostaria de fazer uma correção no pensamento da maioria das pessoas. Apesar de estarmos habituados a ler e escutar nas mídias a denominação coronavírus quando referido ao Covid-19, esse termo não é de todo correto – Porque vocês devem estar se perguntando.
Coronavírus não da nome apenas a um tipo específico de vírus e sim a toda uma família viral – seria como o “sobrenome” do vírus “.E vamos dizer que essa família não é fácil, composta por vírus de RNA único, fazem parte dessa família alguns conhecidos causadores de pandemias e endemias como:
SARS- Cov – que em 2002 se espalhou rapidamente pela Ásia, América do Norte, América do Sul e Europa – infectando mais de oito mil pessoas e causando a morte de mais e 800, antes da epidemia de SARS ser controlado em 2003
MERS-Cov – identificando em 2012 na Arabia Saudita
E o irmão mais famoso o Cov-SARS -2, causador da Pandemia de Covi-19 O que talvez tenha fugido da explicação da mídia é que a família Corona se encontra em contado com a população mundial desde a década de 60, e que ao longo da vida provavelmente já estivemos em contato com ele, manifestando sintomas gripais leves.
Não quero voltar ao velho e repetitivos texto sobre as manifestações clínicas e medidas de controle e prevenção ,entretanto cabe frisar que a melhor medida de prevenção e controle ainda são lavagem das mãos, distanciamento social e ESQUEMA VACINAL completo. Vacinas salvam vidas, e isso não é um clichê médico.
Para dicas de como se proteger da covid-19 física e mentalmente
https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2020/05/e-book-covid-19.pdf
E as variantes como elas surgem?
Todo vírus – e isso inclui o SARS – CoV-2, com o tempo muda, e quanto mais oportunidades um vírus tive de se espalhar, maiores serão as possibilidades do vírus se replicar e mudar, sendo assim, a mutação de um vírus é um processo natural e evolutivo, pode-se afirmar que as mutações de um vírus acontecem quando este de adapta ao ambiente, com o intuito de sobreviver.
Uma analogia interessante é pensar no vírus como um “ditador” ele invade uma célula, entrega o seu material genéticos ao ribossomos ( responsáveis pela produção de proteínas). Esse “ditador viral” ao invadir a célula passa a controlar os seus ribossomos os obrigando a montar cópias de si mesmo, e durante esse processo de replicação existe a possibilidade de erro na cópia, o que gera uma mutação. Mas é errado pensar nas mutações como um processo que causa apenas prejuízo, algumas mutações são benéficas aos vírus. Vale ressaltar que quando menos o vírus for transmitido, menores são as chances de mutações.
Vamos as Variantes ….
Segundo a OMS as variantes do podem ser divididas em três categorias:
Variantes de alta consequência
Apresentam uma resposta menor as vacinas, e causam sintomas mais graves.
Variantes de preocupação
São mais transmissíveis e provocam infeções graves. Sendo incluídas aqui
Variante Alfa – surgiu no Reino Unido, sendo de 43 a 90% mais perigosa que a forma original.
Variante Beta – surgiu na África do Sul, tem um alto poder de transmissão, mas não tanto quanto a alfa.
Variante Gama – surgiu no Brasil, é parecido com a beta, tendo como diferencial ser mais transmissível.
Variante Delta – surgiu na India, sendo a variante que apresentou maior preocupação mundial, por ter potencial de transmissão mil vezes maior que a cepa original do SARS – CoV-2.s
Variante Ômicron – detectada pela primeira vez na África do Sul, possui mais de 30 mutações na proteína Spike ( não é nome de cachorro, mas a proteína que tem função de levar o vírus para dentro do organismo humano) .
Para saber mais sobre a variante ômicron acesse <Seis fatos sobre a ômicron, a variante mais transmissível da Covid-19 – Instituto Butantan>
Variantes de Interesse
Mu – identificada na Colômbia, porém ainda não representa perigo em âmbito mundial.
Lambda – identificada no Peru, não apresenta muitos casos
Agora que já apresentamos um panorama, sobre a Covid-19, vamos voltar ao como isso afetaria um país desolado pela guerra. Pode -se afirmar que muitos são os aspectos que afetam tanto a Ucrânia quanto a Rússia no que diz respeito a transmissão do vírus da Covid.
Soldado ucraniano patrulhando em torno de Svitlodarsk. Fotografo: Anadolu Agency/Getty Image
Sob a ótica da saúde pública, uma guerra durante o inverno russo, no ápice de uma pandemia de caráter respiratório, acarreta uma caos generalizado.
Vamos aos fatos, a OMS – organização mundial da saúde, afirma que a guerra na Ucrânia, está causando um aumento aos índice de contaminação por covid, e isso não afeta apenas a Rússia e a Ucrânia, mas toda a Europa e consequentemente o mundo, porque o fluxo de pessoas em trânsito devido ao êxodo migratório causado pela guerra é enorme.
Em 06/03 a OMS, relatou um ataque onde hospitais na Ucrânia foram bombardeados abandonando dezenas de civis mortos, ferindo o princípio da neutralidade médica, que prevê que os médicos não tomam partido em conflitos de natureza política, ideológica ou religiosa, e tem como único objetivo levar assistência médica a civis, independentemente de qual lado estejam.
Na organização da saúde, visto que não apenas os índices de contaminação por covid aumentariam drasticamente, como a demanda hospitalar colapsaria. Pois não apenas pacientes de caráter respiratório precisariam de atendimento médico específico, existiriam os paciente graves resultantes dos ataques – e aqui não estamos pensando nos pacientes de origem militar, mas sim das vítimas civis, sem relação com a “guerra”.
As mídias relatam o apelo do Ministério da Saúde Ucraniano a população para a doação de sangue, visando o aumento da demanda, entretanto, pode-se notar um fator debilitante a isto e novamente associado ao corona vírus, os baixos índices de vacinação na população tanto ucraniana quanto russa; sendo assim a contaminação por covid – 19 pode ser vista, ainda como descontrolada, sendo mais uma fator que pode predispor ao caos em ambas as nações.
Outro fato a ser destacada aqui é o baixo índice de adesão a vacinação contra a Covid -19, pois em ambas as nações o ceticismo vacinal é massivo, sendo considerada a imunidade de rebanho como a via de controle a pandemia. Entretanto o índice de vacinação na população militar de ambos os países é muito maior do que na população em geral, e ainda assim o número de casos de covid pela variante Omicron é elevado em ambos os lados.
Historicamente a saúde e a guerra estão entrelaçadas, pois os líderes apenas visam conquistar territórios, demonstrar poderio bélico, e não consideram o primordial, a roda motriz que leva a vitória ou a derrota de uma causa – seja ela justificável ou não, a vida de milhares de pessoas que são abandonadas, consideradas meras fatalidades. E são os profissionais de saúde que ficam para trás para contabilizar as mortes, salvar os que podem ser salvos e lidar com toda a impotência que uma guerra trás.